Por que o Ato do Primeiro de Maio foi esvaziado?

Por Rondó da Liberdade

Diante do baixo número de presentes no 1º de Maio, Lula disse, “Márcio Macedo é o ministro chefe da secretaria-geral da Presidência da República. Ele é responsável pelo movimento social brasileiro. Não pensem que vai ficar assim. Eu disse pra ele, o ato está mal convocado. Nós não fizemos o esforço necessário pra levar a quantidade de gente que era preciso levar”.

De fato, Márcio Macedo, como vários analistas de diferentes espectros têm comentado, é um ministro sem qualquer competência. Ele teve sua origem no PSDB. Nunca participou de construções com movimentos populares. Inclusive, processa militantes de movimentos que o criticam em seu estado, Sergipe. Sempre buscando ficar ao redor do presidente, Márcio Macedo parece um bobo da corte em uma pasta que deveria ser tratada com seriedade. Mas seria apenas culpa desse ministro?

O fracasso do 1º de Maio não é um fato isolado no lulismo. Aliás, tampouco é um fato isolado ter um ministro sem relações significativas com os movimentos populares cuidando dessa matéria no governo. Os governos do PT tem estabelecido um tipo de relação com os trabalhadores que vem sempre de cima para baixo, nunca de baixo para cima. A politização das massas e o estímulo à organização e à mobilização estiveram constantemente fora da agenda do governo.

Não se pode perder de vista que a eleição do governo Lula foi extremamente vital para frear o avanço do fascismo no Brasil. Nem deixar de considerar as dificuldades para governar diante da pouca margem deixada pelas alianças com golpistas de ontem, que podem se assanhar amanhã; por causa do cerco e da chantagem que tem sido feita, sistematicamente, pelo Congresso Nacional, na figura de Arthur Lira; por causa do esmagamento do Executivo através da autonomia do Banco Central e da pressão do capital financeiro; dentre outros.

A isso se acrescentam problemas que influenciam na mobilização, como a precarização do trabalho, o impacto ideológico do neoliberalismo, a estrutura engessada do sindicato único por categoria profissional e a proximidade excessiva das centrais sindicais com os governos do PT, dentre outros.

Porém, o lulismo espera conter o fascismo exclusivamente através de concessões e acordos com a direita tradicional, ignorando os resultados dessa estratégia no golpe de 2016, no governo Fernandez na Argentina, no governo Boric no Chile, no governo Castillo no Peru, etc.

Ao contrário do lulismo, o bolsonarismo politiza as massas pela direita, faz agitação e propaganda facistas, estimula a organização, principalmente através do trabalho das igrejas pentecostais. Não é por acaso que Bolsonaro tem conseguido mobilizar muito mais que Lula.

Uma vez que o governo não mobiliza e educa a sua base social para os enfrentamentos políticos, ele se mantém refém de uma frente ampla e à reboque de seus aliados de ocasião. O governo tende a continuar fazendo o que já faz. Observe-se que, em que pese tenha dito que “não vai ficar assim”, Lula mantém Márcio Macedo como ministro.

Por sua vez, os militantes e as organizações da esquerda brasileira precisam também reconhecer que, há três décadas, deixaram de priorizar o exercício de educar e ser educado pelos trabalhadores. Para resistir, lutar e combater com forças suficientes, é necessário que a própria esquerda se reoriente, sem esperar pelo governo. Ir ao encontro do povo, misturar-se com o povo, organizar o povo. É o que, para além das negligências de Márcio Macedo e do governo Lula, o Primeiro de Maio grita para nós.

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