1. A Consulta Popular vem identificando em suas análises que a conjuntura internacional está marcada por dois elementos importantes:
1) A continuidade e aprofundamento da crise capitalista;
2) A Ofensiva do imperialismo estadunidense buscando recompor sua hegemonia. Regionalmente, aqui na América Latina, temos enfrentado uma contraofensiva do imperialismo sobre os governos progressistas formados no início dos anos 2000, cujo objetivo final é recompor a influência e controle dos EUA na região;
2. Golpes, guerras, embargos, fraudes e sabotagens tem sido a marca histórica da ação dos Estados Unidos na América Latina e no mundo. Recentemente o Brasil foi vítima de um golpe de estado (2016). A Bolívia (2019), Honduras (2009), Paraguai (2012) foram outros países que sofreram interferências em seus processos eleitorais e em sua vida política interna. Ao mesmo tempo, Venezuela e Cuba seguem sendo vítimas de embargos, sanções econômicas e assédios golpistas, e têm resistido heroicamente justamente por suas experiências serem baseadas na organização popular e no preparo militar para o enfrentamento dessas ingerências;
3. Com o fim da União Soviética, foi inaugurada uma nova correlação de forças, desfavorável à classe trabalhadora. Decorrente dessa situação, os Estados Unidos puderam colocar em marcha seu plano geral de ofensiva neoliberal, temperado também por invasões e interferências externas, tendo vitimado ainda nos anos 2000 a Síria, a Líbia, o Iraque e o Afeganistão;
4. Todavia, com a conformação em andamento da aliança Rússia-China ampliam-se as pressões pela multipolaridade. O aspecto progressista dessa aliança se revela na alternativa de apoio econômico, diplomático e militar a países não alinhados aos interesses dos EUA. Logo, a reação típica do imperialismo estadunidense tem sido a de promover ações diretas e indiretas internamente ou em regiões fronteiriças desses dois países. Foi assim com as manifestações golpistas de Hong Kong (2019-2020), também tem sido assim na crise do Cazaquistão (2021) e na Ucrânia (2014-2021- 2022);
5. Em especial no Leste Europeu, o instrumento da política imperialista tem sido a OTAN, que desde 1999 incorporou em sua composição: a Polônia, República Tcheca, Sérvia, Hungria, Estônia, Lituânia, Letônia, Romênia, Bulgária, Albânia, Macedônia do Norte e Montenegro. Ao observar a adesão desses países ao tratado, vemos um claro cerco a região fronteiriça da Rússia sendo formado;
6. Com a sinalização de adesão da Ucrânia à OTAN uma linha demarcatória foi cruzada. A Ucrânia que conhecemos possui forte ligação com a formação social da Rússia, está estrategicamente bem localizada, é reputada a ela capacidade nuclear para produzir futuras ogivas atômicas e mesmo os aparelhos “defensivos” que receberia da adesão ao tratado poderiam ser utilizados para atacar a Rússia e levar a região para uma escalada militar extrema;
7. Dentro desse plano de ação, os EUA e o atual governo ucraniano de Zelensky têm apoiado milícias e organizações neonazistas ucranianas, como o Batalhão Azov, o Right Sector, o National Corps e o Svoboda. Fato que criou um crescimento exponencial da extrema-direita na região;
8. Portanto, a conclusão a que chegamos aponta no sentido de que: a culpa do atual desfecho militar é de completa responsabilidade da OTAN, com o incentivo e o
endosso dos Estados Unidos. Essa ação de cerco e assédio corroeu as vias de uma
solução diplomática e pacífica;
9. Em coerência com essa leitura defendemos o retorno as conversações diplomáticas, em busca de uma solução pacífica, que deve gravitar em torno dos seguintes termos:
A) Que os pan-russos moradores da região de Donbass possam exercer os seus
direitos de se autodeterminar, conforme as forças de esquerda locais defendem. Através de instrumentos plebiscitários, que possibilitem a escolha do caminho que queiram trilhar, seja continuar integrando a Ucrânia, proclamarem-se Repúblicas independentes ou se incorporem a Federação Russa;
B) Fim das sanções econômicas e diplomáticas às repúblicas autoproclamadas de Luhansk e Donetsky;
C) Desmilitarização da faixa de fronteira com a Rússia, com necessário recuo da OTAN e expresso compromisso desta de que a Ucrânia não virá a integrar a coalizão;
10. Cabe-nos cobrar a assistência do governo brasileiro à retirada de cidadãos e cidadãs brasileiras que estejam neste momento em território ucraniano;
11. Devemos perceber os conflitos de classe e interesses imperialistas que perpassam essa disputa, combatendo e desmascarando a narrativa dos fatos que à mídia ocidental oferece a população brasileira.
Direção Nacional da Consulta Popular. 24 de Fevereiro de 2022.
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