
Em pronunciamento, o presidente francês Emmanuel Macron expressou oposição a um cessar-fogo na Ucrânia e falou sobre a capacidade de “dissuasão” nuclear do seu país. Para a França, que está assistindo a sua dominação e pilhagem colonial na África ruir com o apoio de Vladimir Putin, a Rússia tornou-se o principal inimigo a ser combatido.
Nos últimos anos, ocorreram diversos levantes civis e militares contra a dominação colonial francesa em países da África, como Mali, Burkina Faso, Níger e, mais recentemente, Chade e Senegal.
Essas lutas anti-imperialistas só têm sido possíveis graças ao apoio militar fornecido aos africanos pelo governo russo. Esse é um dos motivos pelo qual a França deseja manter a guerra na Ucrânia, travada entre a OTAN e a Rússia.
A França domina vários países africanos através da ocupação militar permanente; da implantação de milícias jihadistas; do controle dos recursos minerais, como urânio e ouro; e da imposição da moeda Franco CFA, impressa e controlada pelo Banco Central da França, não permitindo a existência de uma moeda local própria.
Como disse Kwame Nkrumah, “a essência do neocolonialismo é que o Estado que está sujeito a ele é, em teoria, independente. Mas, na realidade, seu sistema econômico e, portanto, sua política são direcionados de fora”, em “Neocolonialismo, o último estágio do imperialismo”.
Por conta da exploração francesa, os países que compõem o Sahel são extremamente pobres e estão nos últimos lugares da lista do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apesar de serem abundantes em riquezas naturais.
Os levantes militares e populares em Mali (2020; 2021), Burkina Faso (2022) e Níger (2023) expulsaram as tropas francesas desses países, derrubaram as mídias francesas e retomaram o controle de recursos naturais, encerrando acordos econômicos abusivos. No final de 2024, os governos de Chade e Senegal também anunciaram a retirada dos militares franceses.
Isso só foi possível porque esses países contaram com o apoio militar da Rússia, que forneceu armas modernas para reforçar os exércitos insurgentes e deslocou para o Sahael a empresa militar Grupo Wagner. Em reconhecimento, durante as manifestações populares, tornou-se comum ver bandeiras da Rússia sendo erguidas pela população africana.
Na Cúpula Rússia-África de 2023, Vladimir Putin anunciou acordos de cooperação militar com mais de 40 países africanos, incluindo promessas de fornecer armas gratuitamente a alguns aliados e o compromisso de doar até 50 mil toneladas de grãos para aliviar a insegurança alimentar no continente.
Além da Rússia, a China, que vem fazendo fortes investimentos econômicos no continente africano, passou a fornecer equipamentos militares, drones, veículos blindados, treinamento de pessoal e transferência de tecnologia para os países do Sahel.
A França e os EUA têm reagido com a imposição de sanções econômicas e isolamento diplomático das nações africanas rebeldes. A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), da qual fazem parte países africanos governados por fantoches franceses, ameaçou invadi-los. A França tem ainda várias bases militares na África, como na Costa do Marfim, Benim, Gabão e Djibuti.
Em resposta à pressão da CEDEAO, Mali, Burkina Faso e Níger fundaram a Associação de Estados do Sahel (AES), com o objetivo de intensificar a cooperação econômica entre os três países e de funcionar como uma proteção mútua contra ameaças de intervenção militar. Eles também manifestaram interesse em estreitar laços com os BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai.
Os processos patrióticos no Sahel, como são chamados, são o resultado da luta de libertação nacional combinada com uma mudança nas condições objetivas no cenário internacional: com a aliança China-Rússia fortalecida, a França, os EUA e seus demais parceiros da OTAN já não conseguem governar como antes. Os povos oprimidos precisam aproveitar ao máximo essa fenda na hegemonia imperial.
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