Nas últimas semanas vêm ocorrendo uma escalada das finanças brasileira e internacional contra o governo Lula, pressionando-o por um compromisso público com a política de austeridade, em particular com a revisão dos gastos mínimos nas áreas de saúde e educação (os chamados “pisos constitucionais”).
Com essa revisão, os financistas pretendem retirar cerca de R$131 bilhões dessas áreas para pagar os juros dos credores da dívida pública, uma minoria de 0,01% da população, que nos últimos 12 meses parasitou mais de R$ 700 bilhões dos cofres públicos.
A escalada contra o governo apresentou uma mudança de qualidade na última semana, após declarações contrárias do presidente Lula aos cortes nos gastos sociais. Desde então, os financistas intensificaram as críticas contra o governo.
Além da gritaria vocalizada pela grande imprensa, os financistas passaram para a ação e colocaram em prática uma operação de ataque especulativo no mercado de câmbio, orquestrando uma fuga de capitais para desvalorizar a moeda brasileira e, assim, promover o desgaste do governo. O dólar acumula alta de 15% no primeiro semestre de 2024, sendo 7,6% apenas no mês de junho, tendo alcançado R$ 5,66 nesta segunda-feira (01/07).
Sem qualquer constrangimento, os financistas afirmaram abertamente que seguirão desvalorizando a moeda brasileira enquanto o governo não se comprometer com o arrocho nos direitos dos trabalhadores. Segundo um desses financistas, espera-se “um posicionamento bem mais forte e mais claro do presidente Lula em relação ao [ajuste] fiscal” e, “Enquanto isso não aparece, o mercado vai continuar testando os limites”. Em relatório enviado para clientes, outro financista afirma que “não há outro termo para usar: o real está sofrendo um ataque especulativo”.
Essa ação se soma à interrupção no ciclo da queda de juros pelo Banco Central (BC) “independente” – independente das eleições e do poder democrático, mas controlado a mão de ferro pela Faria Lima. A manutenção dos juros altos e a fuga de capitais representam um patamar superior da pressão política do capital financeiro, que visa encurralar o governo e obrigá-lo a aplicar medidas contrárias aos interesses de sua base social.
Esses ataques revelam o esvaziamento da democracia burguesa, na medida em que os instrumentos de política monetária foram subtraídos do poder eleito e os governos se encontram cada vez mais submetidos a regras fiscais que instituem a austeridade como política de Estado. Dessa forma, o capital financeiro consegue blindar as decisões de política econômica das pressões democráticas.
O esvaziamento da democracia conduz à sua deterioração, uma vez que as instituições não são capazes de resolver as crises que o próprio neoliberalismo engendra, o que aprofunda a crise de legitimidade e cria as condições para o crescimento da extrema direita.
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