A reputação dos EUA despencou no mundo

A proporção de pessoas que acreditam que os Estados Unidos terão uma influência positiva nos assuntos globais caiu em 26 dos 29 países pesquisados nos últimos seis meses. Pela primeira vez na série de pesquisas conduzida pelo instituto francês Ipsos, que já dura uma década, a China está à frente dos EUA no que diz respeito a exercer um papel positivo no cenário internacional.

Com o segundo mandato do presidente Donald Trump, a reputação global dos EUA caiu 13% em relação a setembro/outubro de 2024, antes da eleição presidencial. Hoje,
apenas 46% acreditam que os EUA exercerão um papel positivo.

A maior queda foi no Canadá. Há apenas seis meses, 52% dos canadenses viam os EUA como uma influência positiva; agora, apenas 19% compartilham dessa visão, uma queda de 33 pontos, o menor índice já registrado no país desde o início da série, em 2015. Outros países com maior queda na confiança incluem Alemanha, França e Japão, parceiros históricos dos EUA.

Em contraste, a visão positiva da China aumentou: 49% agora veem a China como uma influência positiva, um salto de 10 pontos em seis meses. Pela primeira vez em dez anos de pesquisa, a China é vista globalmente como uma influência mais positiva que os EUA. Em média, 49% dizem que a China terá um efeito positivo nos assuntos mundiais. Destaque-se que a grande maioria dos países pesquisados são ocidentais.

A Ipsos entrevistou 22.715 adultos online com menos de 75 anos, em 29 países, entre 21 de março e 4 de abril de 2025. A rodada anterior foi conduzida entre 20 de setembro e 4 de outubro de 2024.
14:25
Não é verdade que os EUA pretendam se reindustrializar apenas por meio das tarifas do governo Trump

O “tarifaço” anunciado por Donald Trump tem o objetivo declarado de reduzir as importações e incentivar a produção doméstica, visando reverter a desindustrialização dos EUA e sufocar economicamente a China. Mas a estratégia de reindustrialização estadunidense não tem se limitado às tarifas, nem começou com o governo republicano.

Em 2022, durante a presidência de Joe Biden, foi sancionada a lei bipartidária CHIPS and Science Act (Lei de Chips e Ciência). Ela destinou US$ 52,7 bilhões em recursos federais para a construção e ampliação de fábricas de semicondutores nos EUA, pesquisa e desenvolvimento (P&D) e formação de mão de obra. Além disso, criou um crédito tributário estimado em US$ 24 bilhões para investimentos em plantas de semicondutores.

Desde a aprovação da CHIPS and Science Act, mais de 90 novas fábricas de chips estão em construção ou planejamento no país. As cinco líderes globais de semicondutores — Intel, TSMC, Samsung, Micron e SK Hynix — anunciaram a construção de novos complexos industriais em solo estadunidense.

Outra frente importante de reindustrialização veio com a aprovação, também em 2022, da Lei de Redução da Inflação (IRA). Apesar do nome, trata-se, fundamentalmente, do maior pacote de investimentos em energia limpa e indústria verde da história dos EUA. A IRA prevê US$ 369 bilhões em investimentos para estimular a produção doméstica de tecnologias da transição energética. Desde a sua promulgação, houve um aumento significativo nos investimentos internos nos setores de veículos elétricos e baterias.

Além dos pacotes citados, o governo Biden e o atual governo Trump têm reforçado as regras do “Buy American”: um conjunto de leis e políticas que priorizam a aquisição de produtos fabricados no país em contratos governamentais. Essas medidas ampliam o mercado desses produtos, funcionando como uma política industrial indireta.

No início de abril de 2025, Trump lançou um ambicioso sistema de compras do Pentágono, com o objetivo de modernizar as aquisições de defesa e estimular a inovação no setor industrial militar.

Os EUA também estão injetando recursos em pesquisa e desenvolvimento. Programas foram lançados para criar polos regionais de inovação (Tech Hubs). Em 2023, o Departamento de Comércio selecionou 31 regiões para receber financiamento inicial destinado ao desenvolvimento de conglomerados industriais em áreas como biotecnologia, robótica, inteligência artificial aplicada e manufatura digital. Cada polo reúne universidades, governos locais e empresas, numa abordagem de parceria público-privada para difundir a capacidade industrial pelo país, e não apenas no Vale do Silício.

Outro pilar da estratégia de reindustrialização envolve ações e parcerias diretas com as grandes empresas de tecnologia. Sob incentivos e pressão governamental, a Apple anunciou, em fevereiro de 2025, um plano recorde de investir US$ 500 bilhões nos EUA em quatro anos, incluindo a construção de uma nova fábrica no Texas dedicada a tecnologias de inteligência artificial. A Amazon, por sua vez, está construindo nos EUA uma infraestrutura própria de hardware, com apoio da NASA e subsídios estaduais.

Essas e outras iniciativas de reindustrialização têm sido adotadas como política de Estado nos EUA, independentemente do partido no governo. O imperialismo que sufocou a maioria da população do planeta por décadas busca manter sua hegemonia a qualquer custo. Os EUA terão muitas dificuldades em sua estratégia industrial e em sua investida contra a China, como a subida de preços, a escassez de trabalhadores especializados e o tempo necessária para desenvolver complexos industriais, mas não se deve subestimar o império ferido.

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