Devemos apoiar a aliança sino-russa, que serve, objetivamente, como um escudo indireto em favor das lutas anti-imperialistas e revolucionárias

No século XX, a existência da URSS foi determinante para o sucesso de inúmeros movimentos de libertação, ajudando a armar e financiar revoluções em todos os continentes e servindo, assim, como uma retaguarda estratégica ao proletariado internacional.

Hoje, embora a China não desempenhe o mesmo papel abertamente revolucionário da URSS, e muito menos a Rússia, a relação com eles oferece um escudo indireto para experiências nacionalistas e democrático-populares.

Na Venezuela, por exemplo, a parceria com Beijing e Moscou tem sido essencial para a resistência bolivariana. Ela tornou possível contornar sanções, manter supermercados abastecidos e reforçar setores-chave como petróleo, gás e eletricidade.

De forma similar, Cuba, submetida há décadas a um bloqueio criminoso dos EUA, encontrou na China e na Rússia aliados vitais para a sua sobrevivência, através do comércio, de auxílios financeiros e de construção de infraestrutura.

A onda de afirmação nacional na África, que expulsou as tropas neocoloniais francesas de Mali, Burkina Faso e Níger e está alargando a soberania desses países, só foi possível com o suporte militar e econômico direto da China e da Rússia. A Palestina, Iêmen, Líbano e Irã se veem menos isolados hoje graças, também, ao auxílio sino-russo.

Esses são alguns exemplos que demonstram que, na luta de classes global, ao limitar o poder das potências dominantes, a aliança sino-russa beneficia a causa dos povos e oferece fôlego às forças progressistas e revolucionárias.

Contudo, o nosso apoio à aliança sino-russa não pode ser automático, e sim condicional. A China e, principalmente, a Rússia apresentam limites e contradições que, por vezes, as colocarão contra os interesses do proletariado internacional.

Durante o século XX, muitas organizações revolucionárias cometeram o equívoco de permanecer a reboque da URSS, mesmo quando essa passou a orientar a transição pacífica ao socialismo. A despeito da caracterização que se atribua a China – seja classificando-a como um país em transição ao socialismo ou como um capitalismo de Estado –, é fato que o Partido Comunista Chinês convive com agudas contradições de classe em seu interior.

Além disso, em que pese o inegável papel progressista que a China tem desempenhado no mundo, ela exporta investimentos, não a revolução proletária. O governo Putin, por sua vez, se orienta por um nacionalismo de direita, mantém laços com a extrema-direita europeia e governa com mão de ferro contra as organizações dos trabalhadores.

Os dois países têm em comum o objetivo imediato de enfrentar as agressões dos EUA e de defender a sua soberania, não necessariamente o de emancipar outros povos do capitalismo. Sua parceria atual é anti-imperialista na medida em que resiste contra o imperialismo estadunidense.

Diante disso, defendemos o apoio condicional à aliança sino-russa, jamais como um fim em si mesmo ou como substituto da ação revolucionária independente, mas na medida em que seu confronto com o sistema imperialista crie condições mais favoráveis para que os próprios povos façam suas revoluções. Cada passo que debilita o domínio imperial e fortalece os povos é bem-vindo no caminho para um mundo socialista.

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